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Economistas e empresários preveem alta de até 10% nas vendas de fim de ano

Expectativa da Acisbec é de aumento de 10% nas vendas em relação ao ano passado

O último trimestre do ano não será de grandes resultados para o comércio e para a indústria na opinião de economistas e dirigentes de associações comerciais do ABC. Se os economistas estão relativamente otimistas, graças a condições econômicas melhores,  os dirigentes de associações comerciais e empresariais dizem que há pouco dinheiro em circulação e nada aponta que o Dia das Crianças, a Black Friday e o Natal, somem um crescimento maior do que 10%. Para todos, o endividamento das famílias impede um avanço maior da economia.

Historicamente o fim de ano é a época mais esperada para o comércio e a indústria segue o compasso de produzir para abastecer as prateleiras, e este ano há condições melhores de preços e desemprego em queda. Para o presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo) Valter Moura Júnior, a perspectiva é boa. “O fim de ano sempre tende a ser melhor e o Dia das Crianças já deve elevar as vendas. Eu acredito que o Dia das Crianças já deve trazer um movimento cerca de 10% superior, se comparado com o ano passado, e com um tíquete médio de R$ 180”, prevê.

Moura Júnior diz que nem a indústria nem o comércio aceleram muito as contratações. “Eu vejo que há uma cautela, mas a indústria já produz mais para abastecer o comércio. Os comerciantes acabam aproveitando o preço para comprar em quantidade, isso vale para a Black Friday”, diz. O dirigente acredita que o efeito do programa Desenrola, que visa tirar a negativação dos CPFs e estimular o consumo, pode, num primeiro momento ajudar nas vendas. “Eu vejo que o maior foco das famílias será o de pagar as dívidas, e ficam aptas para comprar e fazer outras. À médio prazo eu acho que o Desenrola, por não estar aliado a uma política de educação financeira, pode até aumentar o endividamento. O cidadão sai de uma dívida e entra em outra”, opina.

Novembro e dezembro devem ser os meses mais influenciados pelo programa federal, por isso Moura acredita que a tradição de mesa farta e de presentear vai estar mais presente, por fatores econômicos como o desemprego em queda. “Estamos prevendo que o tíquete médio no Natal fique em torno de R$ 300”, prevê o presidente da Acisbec.

Inadimplência em alta

Pedro Cia Júnior, presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), também aposta num crescimento de 10% em vendas em relação ao ano passado, porém ele acredita que o resultado poderia ser melhor, não fosse a inadimplência em alta e a queda do dinheiro em circulação na região. “Esperamos um trimestre melhor que no ano passado, claro, mas poderia ser melhor. O emprego gerado em Santo André, divulgado pelo Caged, metade dele foi na construção civil, não que isso seja ruim, mas é que essa área paga salários menores. O emprego na indústria terá sempre mais peso e nós vemos muita indústria dando férias coletivas, parando a produção. Temos essa migração para o setor de serviços, mas ele não supre. Precisaríamos ter o dobro de trabalhadores em serviços para compensar os que a indústria demite, para ter a mesma quantidade de dinheiro que a gente tinha circulando antes. Por isso minha expectativa não é melhor”, diz.

Cia Júnior considera que o segmento de alimentação é o que deve se sobressair. “Nessa época tem muitas festas, confraternizações e a gente também sai mais, então os bares e restaurantes devem sim se sobressair nessa época”, completa.

Sem circulação do dinheiro

Menos otimista, o presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial) de Diadema, José Roberto Malheiro, diz que tem conversado com vários comerciantes, de diferentes ramos, e deles tem ouvido expectativas pouco animadoras para este último trimestre do ano. “O dinheiro não está circulando e o pessoal está bem pessimista. Essa é uma situação que marcou o mês de setembro, por isso eu acredito que podemos comemorar se empatarmos com o ano passado. Nesta época já deveríamos estar treinando o pessoal temporário para as vendas de fim de ano, mas não se vê esse movimento”, diz.

No comércio, Malheiro não arrisca apontar um ou outro segmento que possa se destacar mais positivamente, ele aposta que os prestadores de serviços de escritório devem ter um fim de ano melhor. “Os advogados e contadores, por exemplo, devem terminar o ano melhores, esses podem comprar seus panetones e viajar, outros setores não”, completa.

Taxa de desemprego

O professor de economia da Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo, Sandro Renato Maskio, a perspectiva é boa. “A pesquisa mensal do comércio tem apontado desempenho muito melhor neste ano do que no ano passado; até o mês de julho, o volume de vendas cresceu 4,34% no País e no Estado 3,27%, os dois tiveram queda no ano passado, isso é um indicador positivo demonstrando que o varejo tem caminhado razoavelmente satisfatório. Outro fator importante é a queda da taxa de desemprego, acompanhado a evolução da massa de salários pagos que melhora o poder de compra do consumidor. O ponto negativo é o comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas. Apesar disso podemos esperar uma melhora das vendas no Dia das Crianças e também Black Friday e Natal, isso porque em novembro já veremos efeitos do Desenrola que tende a ampliar a capacidade das famílias tomarem novos créditos”, analisa.

Outro economista também vê um cenário favorável que aponta para um saldo positivo de vendas em comparação com o ano passado. Para o professor e gestor do curso de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Volney Gouveia, a situação econômica do país entrou num “ciclo saudável”. Gouveia considera que o nível de emprego traz essa sensação mais propícia para as vendas. “A gente observa que há um processo para a resolução do grau de endividamento além de programas de recuperação do salário mínimo, redução do desemprego, principalmente com a contratação de temporários, além da redução da taxa básica de juros”, explica.