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Natal foi o pior dos últimos anos, lamentam empresários do comércio no ABC

Um levantamento da Serasa mostra que as vendas do Natal de 2023 foram as piores dos últimos três anos no país e no ABC essa situação não foi muito diferente; os dirigentes das associações comerciais relataram vendas iguais ou até piores do que as do ano anterior e até de anos anteriores que tiveram a influência negativa da pandemia da covid-19, como o ano de 2021.

O resultado de vendas do último Natal ficou bem abaixo da expectativa dos comerciantes de São Bernardo. É o que revela o presidente da Acisbec, Valter Moura Júnior. Baseado em dois medidores, as consultas ao SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) e a percepção do mercado fruto de conversas com diferentes segmentos, mostrou que o crescimento ficou muito perto da estagnação total. “Avaliamos um aumento de vendas na faixa dos 3% em relação a 2022. Pífio, na minha opinião. Esse foi o pior Natal dos últimos dois anos. Só nas consultas ao SCPC a queda foi de 11%. Eu avalio que o Natal ainda é a melhor data para o comércio do ano, mas vem perdendo muito, tem está dividido com a black friday”, analisa.

O fato da véspera ter caído num domingo, não ajudou, na avaliação de Moura Júnior. “Eu acho que muita gente não teve aquela emenda de feriado para fazer as compras, ou preferiu viajar. Eu diria que esse Natal foi pior do que os dois anteriores em que ainda tínhamos efeito de pandemia e praticamente igual ao pós-pandemia”, analisa o presidente da Acisbec que acredita que o ano de 2024 será influenciado negativamente pelo Natal ruim de vendas. “Eu penso que 2024 pode ser decepcionante, ainda mais porque é um ano de eleição e isso mexe muito com o comércio e também mudam as políticas municipais. Eu penso que o comerciante não vai investir tanto para datas como Dia das Mães e Dia dos Pais”, prevê.

Da mesma forma o presidente da Aciam (Associação Comercial e Industrial de Mauá), José Eduardo Zago, aponta um resultado bem decepcionante nas vendas natalinas. Segundo ele o crescimento em vendas esse ano decepcionou ficando em 5%. “Foi um crescimento absurdamente pequeno, mas foi um crescimento, que até surpreendeu, pois não estávamos esperando crescimento nenhum. Acredito que esse foi o pior dentre os piores Natais. Mesmo com pandemia nós tivemos um crescimento maior do que esse. Não temos perspectiva melhor nem para o Dia das Mães”, analisa.

De igual percepção é o presidente da ACISA (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Pedro Cia Júnior. Sem ainda números fechados sobre o Natal, ele arrisca dizer que não houve crescimento algum em relação ao Natal de 2022. “Conversando com os comerciantes percebemos que ficou mais ou menos igual, não cresceu praticamente nada, ficou estagnado”, avalia. O presidente da Acisa também avalia que o fim de semana de véspera de Natal não contribuiu para alavancar as vendas. “As pessoas anteciparam as compras e viajaram. Não vi restaurantes lotados como é de costume. Mas ainda está calor e as lojas tem estoque que ainda podem vender. Temos as promoções de Natal e se o pessoal usou o 13° salário para pagar as dívidas já pode voltar a consumir”, aponta de forma otimista.

Crescimento

Na contramão o presidente da Aciarp (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Ribeirão Pires), Ricardo Cardoso, disse que a cidade teve um Natal melhor. Ele usou como termômetro a participação dos clientes do comércio na campanha organizada pela entidade que distribuiu prêmios e valescompra sorteados. Cada R$ 100 em compras equivaleram a um cupom eletrônico. “Tivemos, através da campanha, R$ 2 milhões em vendas no período, no ano passado foi R$ 1,1 milhão, ou seja, crescemos e tem ainda aquelas pessoas que compraram, mas não geraram cupons”, explica o dirigente. “Por isso avaliamos que o Natal para nós ficou acima da expectativa. Tivemos um número recorde de comércios participantes apesar de menos patrocinadores”, relata.

Cardoso diz esperar que as vendas em 2024 continuem crescendo no mesmo patamar. “Temos a Vila do Doce arrumada e atraindo mais pessoas de fora para gastar aqui. Não tivemos um Natal tão grandioso quanto fizeram em outras cidades, mas mesmo assim recebemos muitas pessoas”, completa.

Dívidas

Para economista, conselheiro do Corecon-ABC (Conselho Regional de Economia do ABC) e professor da FSA (Fundação Santo André) e da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Antônio Fernando Gomes Alves, faltou dinheiro na praça no fim de ano porque as famílias aproveitaram o dinheiro extra do 13° salário para quitar dívidas.”Uma.coisa é certa, com as familias endividadas e os ganhos com 13° elas pagaram dívidas, os índices de inadimplentes podem explicar isso”, aponta. O índice de inadimplência no ABC cresceu 9,25% em dezembro de 2023 se comparado com o mesmo período de 2022. Cresceu no ABC mais do que na região Sudeste (3,9,%) e mais que no país (3,58%). O levantamento foi feito pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de São Caetano.

Segundo a pesquisa, em dezembro de 2023, cada consumidor negativado da região devia, em média, R$ 5.260,80 na soma de todas as dívidas. Os dados ainda mostram que 27,23% dos consumidores da região tinham dívidas de valor de até R$ 500, percentual que chega a 39,27% quando se fala de dívidas de até R$ 1.000. O tempo médio de atraso dos devedores negativados no ABC é igual a 25,6 meses, sendo que 37,99% dos devedores possuem tempo de inadimplência de 1 a 3 anos.

“O preço de produtos da cesta básica medida pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas) caiu. Isso é efeito do dólar em queda pois alguns produtos são baseados na tarifa”, contabiliza o professor que acredita que, mesmo com os alimentos mais baratos as vendas em geral caíram, porque o foco das famílias foi quitar dívidas. “A inflação em 2022 foi muito grande e ainda impactou em 2023, isso mostra que as pessoas estão pagando dívidas contraídas em anos anteriores. Os juros também ainda estão altos”, destaca.

Com os consumidores quitando suas dívidas e limpando seus nomes o consumo já poderia acelerar novamente, mas o economista não acredita em um efeito tão rápido a ponto de inverter o mau resultado do Natal já nas vendas do Dia das Mães e Dia dos Pais. “No segundo semestre talvez melhore, no primeiro ainda não, é muito cedo. Não podemos esquecer da memória do endividado, depois de pagar ele até pode assumir novas dívidas, mas vai resistir. O que funciona é uma educação financeira para além da planilha de gastos e um consumo consciente; o uso do dinheiro de maneira responsável”, completa o professor Antonio Fernando Gomes Alves.